Como inserir recursos educacionais digitais para aumentar o engajamento na alfabetização

Variar o formato das atividades é uma das orientações para ajudar estudantes em processo de alfabetização, e a tecnologia pode ser uma aliada na ampliação de novas propostas. A seleção de Recursos Educacionais Digitais (REDs) para integrar as aulas, por exemplo, pode enriquecer o processo de ensino e aprendizagem. Com eles, é possível incluir, de forma intencional, jogos educativos, vídeos, áudios, plataformas, animações e quizzes interativos, entre outros.

De acordo com Larissa Santa Rosa, especialista em tecnologias educacionais, a incorporação desses recursos no ensino permite ampliar a diversidade de estratégias para ajudar os alunos, atendendo a diferentes formas de aprendizado. Eles também contribuem para a autonomia, pois muitas vezes são oferecidas com estratégias de gamificação e com resposta imediata.

Mas, ainda que possibilitem um aprendizado mais dinâmico e envolvente para as crianças em fase de alfabetização, os REDs devem ser usados de forma equilibrada e adequada, levando em consideração o desenvolvimento infantil. “O uso dos REDs precisa ser intencional e planejado, garantindo que o recurso realmente contribua para a aprendizagem e não se torne um elemento de distração. E o tempo de tela deve ser equilibrado com atividades presenciais para não comprometer o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças”, pondera Larissa. 

A introdução dos REDs na alfabetização não substitui práticas fundamentais, como a leitura compartilhada, a escrita manual e as interações presenciais com os pares e professores. “O digital deve ser um recurso complementar, promovendo múltiplas experiências de aprendizagem, sem comprometer habilidades essenciais”, destaca.

Como selecionar os REDs adequados para a fase de alfabetização

Uma das vantagens de usar esse tipo de recurso é diversificar as estratégias de ensino, atendendo diferentes estilos de aprendizagem. Eles também favorecem o desenvolvimento da autonomia dos alunos, permitindo que avancem no próprio ritmo de ampliação da linguagem. Elisa Vilalta, membro do Time de Formadores da NOVA ESCOLA e coordenadora pedagógica da rede municipal de Maceió (AL), reforça que "as crianças de hoje já crescem cercadas pela tecnologia. Precisamos transformar isso em um aliado para a aprendizagem, garantindo que o digital contribua de fato para o ensino." 

Por isso, ela explica que, ao selecionar os REDs, é preciso: 

  • Ter objetivos claros

"O docente precisa saber o que quer alcançar dentro da aula para depois pensar qual recurso vai escolher. Eles precisam estar alinhados a esses objetivos de aprendizagem e fortalecer o processo de alfabetização, não apenas ser visto como ferramenta de engajamento”.

  • Avaliar a adequação desses recursos à faixa etária e o nível de desenvolvimento dos alunos.

"As atividades precisam ser acessíveis e desafiadoras, mas no nível certo. Não podem ser muito fáceis, a ponto de não despertar interesse, nem muito difíceis, para não causar frustração", complementa.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê o uso de tecnologias digitais como parte do desenvolvimento das competências gerais, especialmente na Competência 5 (Cultura Digital), que incentiva o uso crítico e responsável das tecnologias no processo educativo. Na alfabetização, os REDs podem apoiar diretamente as habilidades do componente de Língua Portuguesa ao oferecer experiências interativas para leitura, escrita e oralidade. Além disso, a BNCC de Computação destaca a importância de desenvolver o pensamento computacional desde os anos iniciais, estimulando a criatividade, a resolução de problemas e o uso ético das tecnologias.

Critérios de seleção de REDs

Para a inclusão de REDs no seu planejamento, é fundamental considerar uma série de critérios que assegurem a qualidade, acessibilidade e relevância desses recursos

Para os professores com pouca experiência, recomenda-se o uso de ferramentas simples e intuitivas. Aqueles em nível intermediário podem explorar ferramentas de colaboração e criação de conteúdo digital. Já os professores avançados nesse uso podem integrar tecnologias mais complexas e interativas, promovendo metodologias ativas. 

Para ajudar na seleção de REDs adequados, a NOVA ESCOLA elaborou um guia com critérios essenciais, que incluem aspectos tecnológicos, pedagógicos, de acessibilidade, qualidade do conteúdo e ética. Confira abaixo um resumo dos principais pontos:

  • Critérios tecnológicos: Verifique se o RED é gratuito, sem propagandas intrusivas e se pode ser usado offline.
  • Critérios pedagógicos: Avalie se o RED oferece feedback imediato e se pode ser adaptado para diferentes níveis de conhecimento.
  • Critérios de acessibilidade: Garanta que o RED seja acessível para alunos com deficiências e compatível com tecnologias assistivas.
  • Critérios de qualidade do conteúdo: Certifique-se de que o conteúdo é preciso, relevante e livre de linguagem imprópria.

Planos de aula com REDs para auxiliar professores da alfabetização Para facilitar a adoção de REDs, a NOVA ESCOLA acaba de disponibilizar mais de 100 planos de aula voltados ao uso de tecnologias na alfabetização, focando em professores do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. Eles foram elaborados considerando a adequação dos recursos aos objetivos pedagógicos e ao desenvolvimento dos estudantes.

Para Elisa Vilalta, que também foi uma das autoras do projeto, esses recursos ampliam a possibilidade de atender a diferentes estilos de aprendizagem. “Eles atendem desde a criança que é mais auditiva ou mais visual até aquela criança que é mais sinestésica, que aprende com movimentos, por exemplo. Os planos foram adaptados considerando diferentes tipos de aprendizagem. Também permitem ajustar níveis de dificuldade de acordo com o desempenho, ou seja, a gente consegue atender às necessidades dos alunos. E isso, é claro, gera engajamento”.

Segundo Maria Leidiane Moraes Costa, professora do 2º ano da Escola Municipal Maria Roseli Lima Mesquita, em Fortaleza (CE), o uso de recursos educacionais digitais em sua aula ajudou a tornar dinâmicas as propostas de aulas expositivas, assim aliando com o ambiente virtual. “O que é interessante é que o plano [com uso de REDs] desperta para a práticas educativas, e sobretudo formando metodologias acessíveis para geração de aprendizagens significativas para todos os alunos envolvidos na proposta pedagógica”.

Os desafios do uso de tecnologia e REDs na escola Embora o uso de REDs seja incentivado para a alfabetização e demais etapas de ensino, seu uso ainda é desigual no Brasil. Um levantamento de 2024 do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) mostra que menos de um terço (29%) das escolas públicas brasileiras possui algum tipo de equipamento tecnológico para os alunos acessarem a internet – seja um tablet, um notebook ou um desktop. Essa restrição de acesso faz com que muitos professores desistam de usar qualquer proposta atrelada à tecnologia ou precisem de um grande jogo de cintura para conseguir colocar a atividade em prática.

É o caso, por exemplo, de Weyla Andréia Araújo Saraiva, professora do 1º ano da UEB Monsenhor Frederico Chaves, em São Luís (MA). Ela fez parte do grupo de educadoras convidadas pela NOVA ESCOLA para testar os primeiros planos de aula adaptados com REDs e precisou montar duplas para revezar o uso do único dispositivo disponível. “Em uma atividade que trazia na proposta um jogo online, por exemplo, não tivemos acesso ao projetor e as crianças não têm um recurso digital individual na escola. Como ficamos um pouco limitados, precisei fazer uma etapa com cada dupla. Em seguida, utilizei um outro jogo online com o mesmo conteúdo, mas o fiz com o coletivo”.

Ainda assim, ela notou que a estratégia foi bem aceita pela turma. “Pudemos envolver as crianças de acordo com seus níveis de escrita e leitura usando um mesmo jogo. Por exemplo, enquanto as crianças dos níveis pré-silábico e silábico fizeram a associação da imagem com a letra inicial, aquelas dos níveis silábico-alfabético e alfabético escreveram os nomes apresentados na tela do jogo”, conta.

Para Elisa Vilalta, isso demonstra que, mais do que oferecer um dispositivo para cada aluno, é preciso promover práticas formativas que orientem os educadores no uso das tecnologias educacionais. “O professor precisa estar preparado para inserir essas ferramentas digitais com intencionalidade pedagógica dentro das suas aulas. Para isso é necessário formação. Muitos professores utilizam dispositivos tecnológicos para diversão ou uso cotidiano, eles também precisam ser formados para fazer proposições mais assertivas do uso desses recursos dentro da escola, sempre pensando no objetivo pedagógico”, finaliza.

Saiba mais em: https://novaescola.org.br/conteudo/22091/recursos-educacionais-digitais-na-alfabetizacao


Copyright © Direitos Reservados por Learnbase Gestão e Consultoria Educacional S.A.

Contato

contato@learnbasek12.com.br