Diversidade nas escolas de elite: qual o papel das ações afirmativas?

Neste artigo, o educador e pesquisador Leo Bento compartilha resultados de sua dissertação de mestrado e caminhos para a implementação da educação antirracista em escolas particulares

Miguel (nome fictício) foi para a escola bem cedinho, como todos os dias. Ele fez todas as atividades que foram propostas, estava ali de prontidão, contribuiu de forma significativa para as aulas. É considerado pelos professores um dos melhores estudantes, e isso acontece com outros colegas que possuem as mesmas características que a dele: menino negro, pobre e que mora longe do “vale encantado das escolas da zona oeste da cidade de São Paulo” (importante: para quem não conhece a capital paulista, trata-se de uma das regiões mais ricas da cidade). Mas o menino, mesmo com todo o bom desempenho, não consegue superar a falta de entrosamento com os colegas de classe e a exclusão dos convites para as festas e diversos passeios que a turma faz nos fins de semanas.

A escola em que Miguel estuda é uma dessas que gozam de certo prestígio entre a classe média alta da cidade. São instituições particulares com mensalidade média em torno de R$ 7,8 mil. A pergunta que surge é: como Miguel fez para estar ali sendo negro e pobre, características que no Brasil são aliadas por conta do nosso processo histórico de discriminação e exclusão sistemática?

Após a onda de protestos que ocorreram em diversos países do Ocidente, impulsionados pelo assassinato de George Floyd, homem negro morto pela polícia norte-americana em 2020, famílias pagantes de escolas com esse perfil se sensibilizaram para a pauta do racismo estrutural no país e forçaram gestores a tomar uma atitude diante da falta de diversidade. 

É claro que não foi somente esse evento que impulsionou tal decisão. Há um movimento neste sentido desde a promulgação da Constituição de 1988, que trouxe em seu cerne a garantia de direitos que se apresentou como um compromisso do Estado brasileiro. Estudos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) evidenciaram as desigualdades raciais latentes no Brasil. Soma-se a isso a ação de militantes do Movimento Social Negro, com apoio da Fundação Ford que convenceram a Elite do Poder (segundo Charles W. Mills, um grupo seleto atuante na tomada de decisões no mundo financeiro, em empresas, na área militar e política) que era de suma importância a criação de políticas públicas que pudessem trazer equidade para a população. Logo, a implantação de ações afirmativas em universidades como a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e UNB (Universidade de Brasília) no início dos anos 2000, seguida da criação do PROUNI (Programa Universidade para Todos) em 2004 e da Lei 12.711/12 (que garante cotas sociais e raciais nas universidades federais) se apresentam como ações para dar conta de um certo equilíbrio racial. Embora ainda estejamos longe de algo ideal. 

Então, foi dado o pontapé inicial por essas escolas, para que saíssem na vanguarda de implementar políticas de ações afirmativas, oferecendo bolsas com recorte racial para estudantes negros e indígenas, com o objetivo de ampliar a diversidade entre o corpo discente.

Saiba mais em: https://porvir.org/acoes-afirmativas-escolas-de-elite/


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